segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Jesualdo Ferreira e um novo modelo de gestão no futebol

É preciso, da parte de quem dirige (…) capacidade para se questionar, repensar opções, entender que há pessoas que percebem mais do fenómeno em causa (futebol). É preciso delinear finalmente um plano, e é preciso que se dê autonomia de decisão a quem percebe do fenómeno e acredita nesse plano. É preciso repensar o método de escolha das equipas técnicas. É preciso coragem, porque são muitas as boas decisões que inicialmente são impopulares. E é preciso convicções porque sem elas o Sporting não ganha jogos de futebol de forma sistemática.

Escrevi isto na minha última mensagem aqui no blogue, há 21 dias atrás. É portanto natural que esteja satisfeito com a escolha de um gestor técnico para o futebol do Sporting – não podem ser os advogados, os jornalistas e os gestores financeiros a tomar opções de carácter futebolístico (terão porventura – não todos – competências para gerir outras áreas, para tomar outro tipo de decisões: o Sporting é um universo grande mas com especificidades que só quem as domina pode fazer nelas um bom trabalho).

Há um problema neste novo modelo: a situação actual é para ele pouco propicia. Presumimos, porque não o sabemos, que o treinador Vercauteren veio para o Sporting preencher determinadas funções e não esperaria a vinda de alguém que interferisse com o seu trabalho. Jesualdo fá-lo-á: as declarações de Godinho Lopes do próprio assim indicam. Esperemos que exista sensibilidade para que o novo coordenador do futebol do Sporting e Vercauteren não choquem – trabalharem em conjunto parece-me ser, por si só, um desafio (a qualidade do trabalho será outra questão).

Passamos então do novo modelo (e do contexto em que surge) para o novo coordenador de futebol, Jesualdo Ferreira.

O ponto inicial que realço é a capacidade revelada por Godinho Lopes de ouvir os outros (ou melhor, mais que ouvir os outros, ouvir/ter em conta a opinião de pessoas inteligentes e conhecedoras do que falam - é um bom princípio).

Sigamos para a assertividade da escolha de JF. Não conheço profundamente Jesualdo, e talvez por isso (ou não) tivesse outros preferidos para o cargo. Mas conheço minimamente o trabalho que costuma desenvolver no futebol – e esse é bom, sem ser brilhante. Sabe organizar e estruturar equipas no campo, conhece a realidade em que vai trabalhar. Estudou o futebol de forma aprofundada, e isso, ainda que não sendo garantia de nada (pode-se conhecer as bases, não se sabendo muita coisa; tal como se pode conhecer a teoria sem se fazer ideia de como a aplicar à prática – não me parece ser o caso), é positivo.

Espero, portanto, duas coisas:

1) Que Jesualdo Ferreira consiga relacionar-se bem e trabalhar em conjunto com as equipas técnicas das equipas de futebol do Sporting (sobretudo com a da equipa principal), ajudando-a e sendo assim também ajudado por ela

2) Que dessa cooperação e boa relação resulte um trabalho profícuo e transversal às várias equipas de futebol do Sporting


O momento é muito complicado, e Jesualdo Ferreira não é garantia de ser o que o Sporting precisa para dar um rumo ao seu futebol. Mas poucos – ou nenhuns – o seriam. E, entre as que conheço, não seriam muitas as pessoas mais habilitadas para tal cargo que o prof. Jesualdo Ferreira.

É o regresso da coordenação do futebol do Sporting a figuras que o dominam. A pessoas que estão simultaneamente na sua vertente teórica e prática há muito tempo. E isso - ainda que não chegue - já é muito.