Carlos Severino:
A questão do “voto útil” é, para mim, complicada.
Penso que foi o Adriano Moreira que, um dia, disse que “o voto só é útil para
quem o recebe”. Não terão sido as palavras exactas, mas o sentido foi esse. Eu
percebo, mas acho que é um ponto de vista redutor. Tanto quanto, por exemplo,
aquele que defende a necessidade absoluta de exercer um voto útil para escolher
“o menos mau”. Por norma, e fá-lo-ei também aqui, pergunto-me: “identifico-me
suficientemente com indivíduo x para votar nele, sabendo que não tem hipóteses
de ganhar, correndo o risco de que vença o candidato com que menos me
identifico?”. Aqui, a resposta será sempre um rotundo não. Talvez Carlos
Severino merecesse (porque é um candidato, como os outros) que desenvolvesse as
razões pelas quais a resposta à pergunta é não, mas– pelo menos neste espaço, e
não sendo interpelado para tal – não o farei. Fico-me, por isso, por aqui.
José Peyroteo Couceiro:
José Couceiro faz-me lembrar Sérgio Abrantes Mendes. É
a primeira ideia que tenho quando o oiço e quando leio o que diz. E faz-me
lembrar SAM porque tem uma leitura genericamente correcta daquilo que levou o
SCP até esta situação, e daquilo que o SCP precisa para ser tirado desta
situação. Competência na gestão desportiva, porque o Sporting é um clube
desportivo. Reconhecimento de erros factuais, verificáveis e que foram os
decisivos para que o SCP esteja hoje numa situação grave. Há muito mais, no seu
léxico, de “competência”, de “gestão desportiva”, de “decisões” e de “rumos” do
que de “Continuidade”, “promiscuidade com a banca” e “auditoria de gestão”. E é
em grande parte por aí que, face à maioria dos comentadores sportinguistas,
marca a diferença – JPC foca-se nas principais causas do actual estado do Clube
e na forma de sair desse estado. Há poucas questões de sportinguismo, de amor
ao Clube, de Passado associativo, de relações com a banca, de contas com o
Passado e de ameaças judiciais, há muito mais de erros desportivos, de gestão
errática, de alterações estruturais na gestão desportiva e de necessidade de se
ser capaz de convencer os outros (banca, sócios e adeptos, funcionários).
Porém, JPC falha por não me parecer ser capaz de
perceber as pequenas coisas que, juntas, dão origem ao problema que (e muito
bem) reconhece como principal causa para o estado do Clube. JPC sabe que o
Clube tem sido mal gerido, mas – como os outros – parece-me não saber
exactamente nem porquê, nem em quê. JPC, como SAM, é uma pessoa que se destaca
da maioria quando fala sobre o Clube: a postura, o sentido de responsabilidade,
a capacidade de centrar o discurso sobre as grandes questões do Sporting.
Parece-me, porém, incapaz de agir sobre elas devidamente. Isso torna-o uma
pessoa que compreende o funcionamento de um Clube, e aquilo que tem de
acontecer para que seja bem sucedido, mas também o torna incapaz de ser uma
solução suficiente para assumir o SCP. Sobretudo no modelo presidencialista que
parece querer implementar. Isso também o torna mais capaz para Presidente do
que para Director de Futebol ou Treinador. Mas não o torna suficientemente
capaz.
Há ainda algumas incongruências que me confudem.
Couceiro entende que há problemas de tesouraria presentes. Couceiro diz ser
capaz de resolver esses problemas actuais. Couceiro diz ser capaz de
reestruturar o Clube e a SAD, trazer-lhes competência e boa gestão, e torná-los
exemplos. Depois disto tudo, apetece perguntar para que servem os investidores
e como é que se equaciona sequer ceder a maioria da SAD. Ou o naming para o
Estádio. Se alguém se proclama como um indivíduo capaz de resolver as questões
actuais e futuras, pagar as dívidas e ter sucesso desportivo/financeiro, para
que é que serve trazer capital, investidores minoritários e maioritários? Se,
como diz, as questões estruturais só se resolvem com competência e boa gestão,
e se se considera competente e bom gestor, não resolverá assim (e sem trazer
investidores externos) os problemas? Não será capaz de atrair parceiros e
investidores minoritários a boas condições para o Clube? Faz pouco sentido.
JPC é, para mim, o mal menor. Mas, sendo o mal menor,
não é bom. Suficientemente bom, pelo menos. E é por isso que dificilmente
votarei nele. Também aqui (embora menos) o “voto útil” não me convence. Uma
última razão, menos nobre e de que me envergonho, é que ganhar o seu principal
adversário pode trazer, a longo prazo, vitórias para o SCP: da mesma forma como
a vinda de Vercautaren trouxe vantagens por aquilo que era o discurso pré-FV (o
treinador estrangeiro, com títulos, que não fosse excessivamente caro nem ultrapassado).
Ou da mesma forma que a presença de Oceano na Equipa A, durante um mês, serviu
para reduzir “a importância de ter símbolos nas equipas-técnicas do Clube”, por
exemplo.
Bruno de
Carvalho:
Tal como JPC, Bruno de Carvalho não me parece ser
alguém capaz de inverter o paradigma de gestão desportiva do SCP. Muito menos
de fazê-lo (muito) bem. O problema é que, face a Couceiro, parece nem sequer
compreender como se gere um Clube desportivo e o que é que é o fundamental para
que um Clube desportivo seja bem sucedido.
Bruno de Carvalho pega no SCP e quer dizer muitas
coisas, explicar muitas coisas, o que acha que tem de mudar e como acha que tem
de funcionar o Clube. É aí que se mostra totalmente incapaz. Desconfio que, se
Bruno de Carvalho falasse só da Gestão do Clube, presente e passada, de uma
forma geral (e nunca com medidas concretas), diria as coisas erradas e
focar-se-ia nas generalidades erradas. Ou melhor, não é só desconfiança, porque
é o que mostra muitas vezes. Noutras, gosta de ir ao âmago das coisas, gosta de
se debruçar sobre as especificidades e as questões concretas do Passado e do
Presente. Aí, mostra que não só não percebe as coisas básicas, como quer
debater e discutir coisas específicas, que oscilam entre banalidades e
baboseiras. Bruno de Carvalho não é apenas pouco assertivo na
percepção/discussão das coisas básicos e dos lugares-comuns, é também alguém
que já mostrou ser incapaz de fazer coisas boas. Se outros, como Couceiro, se
preferiram resguardar naquilo que são bons (entender um Clube desportivo) – mas
se percebe, pelo que não dizem e pelo que conhecemos deles, que são incapazes
de fazer do SCP um Clube bem gerido – BdC faz questão de demonstrar que não
percebe as coisas básicas e que não será capaz de, nas pequenas coisas, fazer a
diferença e mudar o rumo do SCP.
Tal como no caso do Severino, ou mesmo no do Couceiro
(que é mais difícil de particularizar: visto que este me parece ser incapaz de
tornar o SCP num Clube competente e bem gerido sobretudo pelo que não diz, e
pelo Passado que dele conhecemos), não particularizei as razões pelas quais
teço estas considerações sobre Bruno de Carvalho. Isso não significa que não me
baseio em nada para o dizer; significa que não desenvolvo aquilo em que me
baseio para o fazer. Não é que o tenha de fazer (não tenho), nem que moralmente
o deva (não quero convencer ninguém, não só mas também porque poucos são os que
estão dispostos a ser convencidos). Não me importaria de o fazer. Mas isso
obrigar-me-ia a um acompanhamento mais próximo das declarações das pessoas na
campanha; obrigar-me-ia a uma análise dos programas eleitorais. E eu faço-o,
mas para mim: o esforço que implicaria partilhá-la com os outros seria bastante
grande, porque o raciocínio mental e pessoal é 1000 vezes mais rápido e fácil –
ainda que muita gente ache o contrário, da mesma forma que também acha que o
raciocínio é dispensável. Como não tenho especial interesse em fazer esse
esforço suplementar, porque “hoje” não me identifico com o Sporting nem com os
sportinguistas, poupo-me a isso.
PS - Relativamente à MAG, CFeD e CL
ainda nada decidi. E não pensei muito nesses pontos (fi-lo, mas não o
suficiente por exemplo para partilhar aqui reflexões, nem grandes nem
pequenas). No CL, gostei das declarações do candidato da lista do BdC (João
Mesquita Trindade). Porém, não gosto de muitos dos membros da lista. Mas ou
votarei nessa lista, ou em branco. Na do Severino não votarei de certeza. Na
MAG, não votarei seguramente na lista do BdC nem na do JPC. Gostei das
declarações do Carlos Teixeira (lista do CS). Tenho dúvidas, que resultam
simplesmente de se identificar com as ideias do Severino, mas provavelmente
votarei nele e restante equipa. Para a função, parecem-me capazes. Para o CFeD,
não votarei seguramente na lista do JPC nem na do CS. Oscilo entre a lista do
BdC (o Jorge Bacelar Gouveia parece-me alguém minimamente capaz, não sei se o
suficiente) e a lista Independente (reconheço a muitos dos seus membros grande
validade, mas há outros com que não me identifico minimamente e parece-me que
poderão ser um foco de oposição, mais que independência, se for JPC a vencer as
eleições - algo que duvido que aconteça).
GBC,
ResponderEliminarDevia escrever mais vezes.
Só queria destacar duas coisas com que me identifico: a envergonhada noção de que BdC ganhar pode ser o passo atrás para dar dois em frente; e o que diz sobre "o esforço que implicaria partilhá-la com os outros seria bastante grande, porque o raciocínio mental e pessoal é 1000 vezes mais rápido e fácil – ainda que muita gente ache o contrário, da mesma forma que também acha que o raciocínio é dispensável". Às vezes penso em ter um blog, escrever uns textos, mas sinto exatamente isso!
GBC, uma visão que se impunha, falando por mim (teu leitor). Está tudo aqui dito. É isto tudo.
ResponderEliminarCaro GBC,
ResponderEliminarcheguei aqui através de um comentário seu no meu blogue e através das referências no Sporting Autêntico, do MM. Subscrevo o que diz o Duarte, devia escrever mais vezes.
Se não se dispuser contra gostaria de lhe fazer referência no meu blogue, incluindo alguns excertos do seu texto.
LdA,
ResponderEliminarEu preferia que não o fizesse, sinceramente. Embora agradeça.