sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Notas da Pré-Época

1)      A política de contratações do Sporting, até ao momento, foi… estranha. Pode-se questionar muita coisa: a primeiro, por exemplo, passa pelos avançados: como é que se contratam 3 homens de ataque, quando há na Equipa B dois avançados de qualidade, que já jogaram ambos pela equipa principal, e que fizeram uma boa temporada na Equipa B? Ainda por cima em «contenção de custos»... Faz sentido um jogador que renova até 2018, com uma cláusula de 60 milhões de euros, ter (pelo menos) três opções á sua frente no plantel? Não faz. O Sporting precisava de contratar um homem de ataque (Montero), e até me parece que acertou. Depois, contratou mais 2. Tenho sérias dúvidas que tenham mais talento e até capacidade que o Diego Rúbio (não digo o Betinho porque realmente precisa de jogar, e com o Montero teria dificuldades), mas veremos com o decorrer da temporada. A única coisa que ainda me dá algumas esperanças quanto a pelo menos um deles (Slimani) é a impressão de que foi recomendado por Jesualdo…
 
Outra contratação estranha foi o brasileiro Gerson Magrão. O Sporting tem tantas soluções para o meio-campo que mais uma só seria necessária caso fosse um acrescento indiscutível de criatividade ao sector. Assim, é um jogador que vai tapar Chaby (é a médio-centro/8.5 que melhor joga, e arriscaria as fichas todas em como vai ter uma carreira 10 vezes melhor que a do brasileiro) e, já agora, que vai também tapar o rapaz com quem o Sporting acaba de renovar até 2019 (com uma cláusula de rescisão de 45 milhões), o português Kikas, de 22 anos. Não falo em Zezinho nem em Stojanovic porque não terão capacidade, neste momento, para tal (mas o Magrão terá?). Mais um fenómeno… estranho.
 
Há também que notar uma coisa: o Sporting decidiu partir para a época com 3 laterais. Se Jefferson parece ter qualidades que justificam a aquisição, e se Cédric parece que vai ser uma aposta muito forte de Leonardo Jardim, sobra um lugar. Quem é que faria sentido o Sporting garantir? Eu recordo-me de vários, de cabeça, para um lado e para o outro. Por exemplo, Joãozinho, que até já por cá estava. Será um jogador menos capaz, útil e caro que Welder? Tenho muitas dúvidas… tal como tenho muitas dúvidas que a direita precisasse de ser mais reforçada que a esquerda (mas isso são outras contas). Pode ser que a prospecção resulte...
 
Por último, quanto às contratações, o sector dos centrais. Maurício foi adquirido, e por enquanto até está a dar conta do recado, mas cheira-me que não é muito melhor que um tal de Xandão… quando se exigir mais aos centrais do Sporting, ofensivamente, durante a temporada, tenho muitas dúvidas que Maurício seja suficiente. Temo que voltemos a ter os mesmos problemas que tínhamos com Domingos (alguém se esquece da forma como os adversários “largavam” os centrais para os convidar a construir…? Pois). O parceiro que tem (Rojo) também não dá confiança nenhuma. Quando chegou, vi qualidades no argentino. Mais tarde, vi melhor (porque outros, a quem estou como em outras coisas bastante grato, me alertaram) e percebi falhas clamorosas. Pareceu-me que entretanto melhorou mas que já voltou a piorar outra vez. Sendo um jogador com algum mercado e ganhando presumivelmente um ordenado bem razoável, se surgissem algumas propostas (mesmo que modestas) talvez fosse de vender. Libertavam-se fundos para renovar com o Ilori e preenchia-se mais um lugar com o Nuno Reis.
 
Porém, tenham cuidado: aqueles que apelidavam todas as contratações de «Freitadas» e os dirigentes de «comissionistas» escandalizam-se hoje com meras questões. O meu benefício da dúvida aos jogadores existe sempre (as dúvidas podem ou não existir, depende do que pensar). Quanto aos dirigentes, também, por mais que exprima a minha incompreensão e perplexidade. No mais, como diria um excelente sportinguistas, «a opinião não joga à bola» (felizmente).
 
2)      Outro tema de que quero falar: William Carvalho. Eu acho que tem qualidade. Acho que tem também algum potencial (pode evoluir ligeiramente). E pode-se tornar a médio prazo um jogador razoavelmente forte. Agora, tem-se exagerado muito. Em discussão com o Filipe Vieira de Sá, do Jogo Directo (cujo regresso saúdo!), sugeria-lhe a opção do William como central. É verdade que não é muito rápido (também não o é para trinco), mas com bola é um jogador que provavelmente teria um efeito mais positivo para o Sporting do que o Maurício e o Rojo. De qualquer forma, mesmo que só se veja o William como médio-defensivo, não compreendo como pode partir a titular. Compreendo que os adeptos gostem dele (afinal, é alto e forte). Estranho que o Jardim o ache bom por ser alto e forte (ter dado a titularidade inicialmente ao Djamal, que depois perdeu o lugar para o Custódio, deve ter dado para tirar conclusões). Pôr o Rinaudo a jogar bem não é um desafio propriamente hercúleo para nenhum treinador (ao contrário do que se faz crer). E quando para aquele lugar há também André Santos (tem uma forma de jogar algo próxima da do William, mas com bem mais qualidade) e João Mário (que nos juniores jogava como médio-defensivo atrás da dupla João Carlos-Chaby, e que era aí que punha melhor em prática a sua sobriedade, simplicidade de processos, acerto e leitura de jogo; e que já não evolui mais jogando na Equipa B), faria sentido emprestar o William Carvalho. Talvez o Marítimo de Pedro Martins (foi agora buscar o Danilo Pereira, que é bem pior que o William) ou o Paços de Costinha (joga com o Rodrigo António, a quem o William daria muita luta) fossem boas opções para o jogador se desenvolver, porque precisa efectivamente de jogar e lidar com a realidade da Liga Portuguesa. Além disso, actuaria numa equipa que jogará para a primeira metade da tabela, valorizando também.
 
3)      Sobre os guarda-redes, penso que Cássio (que tem sido falado) seria uma excelente opção. Acho que o Boeck joga muito mais que isto (tem estado para lá de mau), mas mesmo o melhor Boeck é pior que o melhor Cássio. Seja para emprestar o Marcelo a uma equipa onde possa jogar (é suplente há dois anos), seja para discutir com ele a titularidade (penso que acabaria também por a ganhar), era uma boa solução. O melhor para o Sporting era mesmo manter o Patrício, emprestar o Boeck a um clube que lhe pagasse os salários e onde ele pudesse jogar, e garantirmos o Cássio a “custo zero”. Ficávamos com duas excelentes opções. Aliás, digo mais, mesmo que não venha ninguém, não me escandalizaria se o Marcelo fosse emprestado.
 
 
4)      A penúltima nota é sobre o ataque. Acho que o Montero se vai afirmar, e mais depressa do que se julga. Isso não significa que vá ser brilhante, mas considerando os actuais pontas-de-lança do Braga, do Marítimo, do Paços, do Estoril e do Rio-Ave, e considerando os objectivos do Sporting (3º lugar, ainda que se a equipa ficar em 4º provavelmente Jardim se mantenha), não será por aí que falharemos rotundamente este ano. Se o Sporting tiver bons momentos no ataque, em cada jogo, não será por aí (tivemos com o Braga, o Montero falhou, na maioria dos outros jogos marcará, creio… e se não marcar ele marca outro qualquer). Para as alas é que está bem curto. Assumindo que Bruma não renovará, Jardim tem que dar toda a confiança a Carrillo (como está a fazer). É nele, e não em mais ninguém, que todas as fichas têm de estar apontadas, para aqueles lugares no ataque. Wilson (embora voluntarioso), Capel (quando veio do Sevilla parecia que ou melhoraria e seria um caso sério, ou se afundava fortemente… e afundou), Magrão (se jogar ali…) e Salomão não são soluções realmente fortes. Só o peruano é capaz de responder como um “jogador grande” dentro do leque existente… oxalá responda. Ainda sobre isto, estranho como não se chama o Iuri Medeiros, da Equipa B. Seja para jogar a extremo (desde que não o colem na linha), seja para jogar como segundo avançado, é uma óptima solução – tirando Carrillo, a melhor que o Sporting tem, para os dois lugares. Até Esgaio talvez desse mais rendimento que o actual leque de extremos. Agora, só entrará mais um caso Capel seja vendido. Era muito bom que assim fosse, e que viesse o Iuri (ou outro com a qualidade do açoreano... gosto da formação como gosto de futebol).
 
 
5)      Sobre o comportamento da pré-época, a ideia que fiquei foi que a equipa esteve horrível com o West Ham (não me chocou perder os duelos físicos, chocou-me a equipa ser incapaz de fazer três passes consecutivos quando tinha a bola no chão… e também me chocou o facto dos jogadores estarem todos longe uns dos outros, completamente estendidos no campo) e melhorou com o Braga (os defeitos do jogo com o West Ham, aqueles que critiquei, entenda-se, foram precisamente os mesmos do jogo com o Braga, mas a uma escala muito menor). Há, ainda, um caminho a percorrer – não sei se é longo ou curto, sei que a evolução é necessária (não me parece, ainda assim, que estejamos num patamar muito inferior à dos nossos principais adversários deste ano). E há que, individualmente, melhorar as soluções para o centro da defesa (são necessárias duas opções muito fortes, a não ser que Rojo se transfigure… Eric e Ilori seriam obviamente as melhores opções), para o ataque (onde há que garantir pelo menos mais uma opção francamente talentosa, rezando para que as outras duas cumpram). De qualquer forma, as notas sobre a performance da equipa são apenas meras impressões. No Jogo Directo perceberão algumas coisas que de certeza absoluta que vos escaparam… e no Lateral-Esquerdo ficarão com uma “big Picture” excepcional daquilo que foi a forma da equipa jogar, recentemente.

6 comentários:

  1. Belíssima análise.
    Eu dou o benefício a todos os reforços. Mesmo havendo alguns cuja contratação acho estúpida desde a primeira hora. No entanto, depois de ver o "estilo de jogo" de uns, e o continuar a reforçar posições que não estão assim tão carenciadas, fiquei mais apreensivo.
    É porque a desculpa que são todos baratos não cola. Preferia 1 caro com qualidade confirmada, que 4 baratos e toscos, sempre se ganhava no aspecto desportivo. Mais ainda, quando sabemos o salário anterior do Magrão (por exemplo), ficamos a saber que não são assim tão baratos quanto isso. Também fico um bocado apreensivo por não termos praticamente recorrido ao mercado interno. Tínhamos outras opções talvez mais interessantes: Candeias, Helder Barbosa, Tiago Valente...

    Sobre o Maurício, queria perguntar-te quantos jogos achas que ele termina sem ser expulso? É que eu fiquei de cabelos em pé com o excesso de agressividade dele. O Rinaudo ao pé dele é um menino do coro. Mas até agora ninguém mencionou isto, se calhar eu é que me estou a preocupar demais.

    De todos os reforços o que mais me entusiasma é Montero. Parece um pouco mais dotado tecnicamente que o Ricky. Aguardemos...

    Só vi com atenção os jogos da Taça de Honra e do Torneio do Guadiana, o que equivale a dizer que do trabalho do Leonardo Jardim só vi os últimos dois jogos. Fiquei um bocado decepcionado sinceramente. Se gosto da aposta mantida no André Martins, no Adrien, no Cédric e no Carrillo, fiquei algo desgostoso com a dinâmica colectiva, e com o esquema táctico utilizado. Depois de ler o post no Lateral Esquerdo ainda fiquei um bocado mais apreensivo. Não sei se vi mal, mas o Sporting voltou a defender as bolas paradas com marcações HxH?

    Por último, a renovação de Kikas. Ainda junior, era dos que mais gostava de ver jogar. Poucos lhe auguram um futuro risonho pela sua pequena estatura e ser médio-defensivo. No entanto, penso que podia ensinar bastante ao Rinaudo e ao William em termos posicionais. Que te parece?
    Gostei que tivesse renovado, pois apesar de ser daqueles que dificilmente conseguirá atingir a equipa A, gostava que ficasse na B a integrar os mais novos e a servir de "irmão mais velho". Mas depois fiquei a saber que só podem estar 3 jogadores com mais de 23 anos na B, e o Kikas já tem 22... enfim... não sei


    PS: Conheces, ou conheces alguém que conheça, aquela aplicação lançada pelo LJ Notes4Coach? Queria saber se valia a pena experimentar...

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  2. O Cássio não é guarda-redes para um grande. Tem enormes lapsos de concentração e transmite insegurança à defesa. Não admira que o Jesualdo o tenha despachado.

    Esta é uma boa análise do plantel. Só tenho muitas dúvidas em relação à capacidade do Jefferson para evoluir em termos de posicionamento defensivo( aspecto em que o Rinaudo também tem de melhorar)

    Cumprimentos

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  3. GBC, e numa época onde haverá naturalmente muita folga ao nível de expectativas. Não seria difícil melhorar a composição do plantel mas isso dificilmente foi feito. Subscrevo que dos jogadores contratados somente Montero acrescentará de facto alguma coisa e no mais temos menos opções com qualidade para a defesa, meio-campo e ataque (via saída de Bruma), não obstante o ingresso de Montero. É expectável que consigamos resultados comparativamente melhores aos alcançados em 12/13, não porque a transição tivesse sido minimamente satisfatória mas porque os resultados da época passada foram medíocres. Ainda em termos comparativos, arriscaria dizer que não atingiremos a pontuação de 2011/12, época para o campeonato igualmente fraca mas onde tínhamos melhores opções para a equipa.

    O Sporting em menos de 1 ano (entre os dirigentes que saíram e os novos que entraram) perdeu Carriço, Pereirinha, Ilori e Bruma. 4 bons jogadores em menos de 1 ano quando andamos "desesperados" por qualidade e a variar classificações entre os 4ºs e 7ºs lugares. Fica tudo dito e esta pré-época serviu para perceber que dificilmente o clube mudará de vida. Ter Ilori encostado, Rúbio, João Mário, Betinho ou Labyad na equipa-B ao passo que andamos a contratar Maurício, Welder, Magrão e Cissés são atestados de estupidez que estes dirigentes passam a si próprios. Naquilo que é fundamental, fica tudo na mesma.

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  4. Manuel Humberto,

    o que é mais estúpido na "estória" do Labyad é que tê-lo encostado na equipa B é estar a destruir o seu valor, e só perde o Sporting. Encostá-lo na equipa B exige que o Sporting lhe pague o mesmo ordenado, provavelmente ninguém o virá buscar. Se o treinador contava com ele, o treinador é que sabe se ele se esforçava ou não, e não é por ganhar mais que tem que se esforçar mais que os outros, todos têm que dar o máximo e honrar o contracto que assinaram. O Labyad não tem culpa do que lhe ofereceram, certamente teria ofertas semelhantas. Querem vergar o jogador, mas o Sporting é que perde sempre...

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  5. É para forçar o jogador e o empresário a arranjarem uma solução. Querendo transferi-lo e não conseguindo, a falta de conhecimentos é tanta que atiram para cima do atleta a responsabilidade de arranjar uma alternativa. Labyad e Turan encaixam neste modo de actuação.

    O Sporting saiu de uma miséria para se pôr noutra.

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