Haveria muito para comentar quanto
ao futebol do Sporting – jogos e resultados, qualidades deste e daquele
jogador, assertividade desta ou aquela opção. Haveria muito para comentar sobre
o futebol do Sporting nas últimas semanas, mas não o fiz. Não tive vontade de o
fazer. Discutia há tempos com um amigo que a blogosfera era um espaço onde
pessoas como ele teriam talvez duas opções claras: permanecerem e serem um
espaço isolado (diferente) dos demais ou pura e simplesmente a desprezarem,
porque, na sua maioria, não merece o tempo (e os assuntos) que com elxa se
gasta(m).
Gosto muito de discutir o Sporting,
gostaria de ter tido vontade para o fazer aqui – sempre num registo
marcadamente diferente dos demais, porque pensar por mim e não seguir a
corrente é a única coisa que tenho de fazer para que isto possua algum valor
que seja. Repetir o que os outros dizem seria pura e simplesmente gastar tempo,
comentário a comentário, artigo a artigo. Escrever letras mais letras, sem
substância alguma – e as palavras, tanto como o Sporting, não o merecem.
Penso no que a blogosfera trouxe ao
Sporting nos tempos mais recentes, e assusto-me. Parece-me claro que a sua
representatividade tem aumentado. Notei-o particularmente há poucos dias,
quando falava com uma outra pessoa que conheço, fora deste círculo, e ouvia
frases que jurava ter lido “por aí” (não com a mesma forma, claro, mas com
conteúdo muito idêntico).
A conclusão que tiro é que a
blogosfera tira mais do que o que dá ao Sporting – cria uma corrente de opinião
que não é opinião; mas que se alastra; cria um conjunto de ideias, que serão
mais e mais partilhadas por outros, mas que não são ideias (é preciso pensar
para haver ideias, não escrever só). Enfim, entristece-me: há hoje um número
muito significativo de sportinguistas (e por sportinguistas poderia dizer
jovens, ou pessoas, mas a discussão resvalaria para locais que não o mapa em
que o blogue se insere) que sabe tudo sobre tudo, menos pensar e fazer. Os
conhecimentos são infinitos, mas a responsabilidade fica para os outros. As
ideias são certezas, mas não são sequer ideias – conjunto de frases soltas
repetidas até à exaustão que não servem em nada a discussão (porque não servem
de forma alguma o Sporting).
Porque para discutir o expresso no
primeiro parágrafo há tanta gente (e há por aqui tão pouca vontade para o fazer
quando todos o fazem; poucos de forma interessante), foco-me apenas num ponto
que vou comentar porque me parece absolutamente fulcral para o Sporting:
mudanças no CD e entrevista de Godinho Lopes – duas coisas que se relacionam,
logicamente.
Parece-me que em Godinho Lopes há
muita vontade, há empreendedorismo mas tenho dúvidas da sua capacidade de dar a
volta a situação. Se Paulo Farinha Alves é advogado ou pasteleiro é algo que
tem muito pouca relevância quando o ponto crucial desta escolha é a vontade de
Godinho Lopes estender o seu poder de decisão ao futebol (e as saídas de Carlos
Freitas e Luís Duques, saídas que foram provocadas somente por uma vontade de
mudar a organização do futebol sportinguista – outras pequenas razões jamais
seriam suficientes para Godinho Lopes tomar uma medida tão pouco popular:
porque se todas são pouco populares por quem está manifestamente contra as suas
opções, esta é-o também para quem se revia nas ideias/no trabalho que vinha
sendo feito no futebol).
Não sou fã da ideia – não vejo que
modelos presidencialistas sejam solução para o Sporting porque seria preciso
que o presidente em causa fosse não só competente na sua área, como soubesse verdadeiramente
pensar (algo de muito mais difícil do que parece, ainda que algo que levaria a
que as decisões fossem maioritariamente boas não apenas em algumas, mas em
todas as áreas do clube).
E temo o futuro – parece-me que
Godinho Lopes não percebeu o que foi feito de bom nem de mau no futebol (e que
terá tendência para corrigir mais o que foi bem feito que o que foi mal feito);
por outro lado, estou absolutamente seguro que há muito poucos sportinguistas
que o percebem também).
Enfim, por um lado vejo um modelo
que não acho mau (não seria seguramente o meu, como nunca nenhum será o meu; o
que está longe de significar que seja pior) a ruir cada vez mais, e um conjunto
de pessoas que são totalmente incapazes de perceber o que foi bem e mal feito
(o essencial para se corrigir os problemas/erros) a ganharem preponderância e
aceitação na “nossa” sociedade civil.
Por enquanto, estas mudanças serão
pouco visíveis: o treinador já estava escolhido, as mudanças que serão
efectuadas em Janeiro porventura já estavam a ser debatidas. O futebol do
Sporting continuará a ser regido mais ou menos da mesma forma durante uns
tempos. Seguramente com melhores ou piores jogos ao fim-de-semana, mas
estruturalmente só mudará mais tarde. E o meu receio é que, ai, o que é bem pensado
não o continue a ser.
«É possível, porque tudo é
possível» (Jorge de Sena) que o essencial do futebol do Sporting não piore (i.e., se mantenha ou
melhore) – e, não se piorando o essencial, o que tem vindo a falhar acabaria por
se acertar mais cedo ou mais tarde. Só não penso que seja o que seria importante ser – provável.
Penso-o cada vez menos. Ainda assim, não o troco por nada que já “conheça” – ou que
saiba que possa vir a ser uma realidade -. Porque pior é sempre possível – e, neste
caso, atendendo às críticas que são feitas por quem se pode perfilar como possuidores de um caminho alternativo, é também provável.
Futebol de tentativa e erro, porque noutras áreas também concordo que tem havido acerto. Nalguns casos a rapidez tem sido notável, muita coisa feita em muito pouco tempo. Enfim uma coisa é certa: existirá somente, no máximo, mais 1 pré-temporada para que estes dirigentes acertem o passo. Se não o fizerem, independentemente das qualidades que mostrem em tudo o resto, serão sempre julgados pelos resultados do futebol. Não é preciso ser-se bruxo para adivinhar o resultado do julgamento.
ResponderEliminarSerá muito problemático se ao longo do próximo ano e meio não aparecer nenhuma alternativa além da que já existe.
"A blogosfera tira mais do que o que dá ao Sporting", não poderia concordar mais.
Um abraço.