sábado, 27 de outubro de 2012

Mudanças (?)


Haveria muito para comentar quanto ao futebol do Sporting – jogos e resultados, qualidades deste e daquele jogador, assertividade desta ou aquela opção. Haveria muito para comentar sobre o futebol do Sporting nas últimas semanas, mas não o fiz. Não tive vontade de o fazer. Discutia há tempos com um amigo que a blogosfera era um espaço onde pessoas como ele teriam talvez duas opções claras: permanecerem e serem um espaço isolado (diferente) dos demais ou pura e simplesmente a desprezarem, porque, na sua maioria, não merece o tempo (e os assuntos) que com elxa se gasta(m).

Gosto muito de discutir o Sporting, gostaria de ter tido vontade para o fazer aqui – sempre num registo marcadamente diferente dos demais, porque pensar por mim e não seguir a corrente é a única coisa que tenho de fazer para que isto possua algum valor que seja. Repetir o que os outros dizem seria pura e simplesmente gastar tempo, comentário a comentário, artigo a artigo. Escrever letras mais letras, sem substância alguma – e as palavras, tanto como o Sporting, não o merecem.
Penso no que a blogosfera trouxe ao Sporting nos tempos mais recentes, e assusto-me. Parece-me claro que a sua representatividade tem aumentado. Notei-o particularmente há poucos dias, quando falava com uma outra pessoa que conheço, fora deste círculo, e ouvia frases que jurava ter lido “por aí” (não com a mesma forma, claro, mas com conteúdo muito idêntico).

A conclusão que tiro é que a blogosfera tira mais do que o que dá ao Sporting – cria uma corrente de opinião que não é opinião; mas que se alastra; cria um conjunto de ideias, que serão mais e mais partilhadas por outros, mas que não são ideias (é preciso pensar para haver ideias, não escrever só). Enfim, entristece-me: há hoje um número muito significativo de sportinguistas (e por sportinguistas poderia dizer jovens, ou pessoas, mas a discussão resvalaria para locais que não o mapa em que o blogue se insere) que sabe tudo sobre tudo, menos pensar e fazer. Os conhecimentos são infinitos, mas a responsabilidade fica para os outros. As ideias são certezas, mas não são sequer ideias – conjunto de frases soltas repetidas até à exaustão que não servem em nada a discussão (porque não servem de forma alguma o Sporting).

Porque para discutir o expresso no primeiro parágrafo há tanta gente (e há por aqui tão pouca vontade para o fazer quando todos o fazem; poucos de forma interessante), foco-me apenas num ponto que vou comentar porque me parece absolutamente fulcral para o Sporting: mudanças no CD e entrevista de Godinho Lopes – duas coisas que se relacionam, logicamente.

Parece-me que em Godinho Lopes há muita vontade, há empreendedorismo mas tenho dúvidas da sua capacidade de dar a volta a situação. Se Paulo Farinha Alves é advogado ou pasteleiro é algo que tem muito pouca relevância quando o ponto crucial desta escolha é a vontade de Godinho Lopes estender o seu poder de decisão ao futebol (e as saídas de Carlos Freitas e Luís Duques, saídas que foram provocadas somente por uma vontade de mudar a organização do futebol sportinguista – outras pequenas razões jamais seriam suficientes para Godinho Lopes tomar uma medida tão pouco popular: porque se todas são pouco populares por quem está manifestamente contra as suas opções, esta é-o também para quem se revia nas ideias/no trabalho que vinha sendo feito no futebol).

Não sou fã da ideia – não vejo que modelos presidencialistas sejam solução para o Sporting porque seria preciso que o presidente em causa fosse não só competente na sua área, como soubesse verdadeiramente pensar (algo de muito mais difícil do que parece, ainda que algo que levaria a que as decisões fossem maioritariamente boas não apenas em algumas, mas em todas as áreas do clube).

E temo o futuro – parece-me que Godinho Lopes não percebeu o que foi feito de bom nem de mau no futebol (e que terá tendência para corrigir mais o que foi bem feito que o que foi mal feito); por outro lado, estou absolutamente seguro que há muito poucos sportinguistas que o percebem também).

Enfim, por um lado vejo um modelo que não acho mau (não seria seguramente o meu, como nunca nenhum será o meu; o que está longe de significar que seja pior) a ruir cada vez mais, e um conjunto de pessoas que são totalmente incapazes de perceber o que foi bem e mal feito (o essencial para se corrigir os problemas/erros) a ganharem preponderância e aceitação na “nossa” sociedade civil.

Por enquanto, estas mudanças serão pouco visíveis: o treinador já estava escolhido, as mudanças que serão efectuadas em Janeiro porventura já estavam a ser debatidas. O futebol do Sporting continuará a ser regido mais ou menos da mesma forma durante uns tempos. Seguramente com melhores ou piores jogos ao fim-de-semana, mas estruturalmente só mudará mais tarde. E o meu receio é que, ai, o que é bem pensado não o continue a ser.

«É possível, porque tudo é possível» (Jorge de Sena) que o essencial do futebol do Sporting não piore (i.e., se mantenha ou melhore) – e, não se piorando o essencial, o que tem vindo a falhar acabaria por se acertar mais cedo ou mais tarde. Só não penso que seja o que seria importante ser – provável. Penso-o cada vez menos. Ainda assim, não o troco por nada que já “conheça” – ou que saiba que possa vir a ser uma realidade -. Porque pior é sempre possível – e, neste caso, atendendo às críticas que são feitas por quem se pode perfilar como possuidores de um caminho alternativo, é também provável.

1 comentário:

  1. Futebol de tentativa e erro, porque noutras áreas também concordo que tem havido acerto. Nalguns casos a rapidez tem sido notável, muita coisa feita em muito pouco tempo. Enfim uma coisa é certa: existirá somente, no máximo, mais 1 pré-temporada para que estes dirigentes acertem o passo. Se não o fizerem, independentemente das qualidades que mostrem em tudo o resto, serão sempre julgados pelos resultados do futebol. Não é preciso ser-se bruxo para adivinhar o resultado do julgamento.

    Será muito problemático se ao longo do próximo ano e meio não aparecer nenhuma alternativa além da que já existe.

    "A blogosfera tira mais do que o que dá ao Sporting", não poderia concordar mais.

    Um abraço.

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